Historicamente as hortas comunitárias deram origem a agricultura. Você deve estar pensando, até aqui nenhuma novidade. Recentemente foi divulgado o relatório realizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura ou Food and Agriculture Organization of the United Nations – FAO, Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola – FIDA, Organização Mundial da Saúde – OMS, Programa Mundial de Alimentos-WFP e Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF que, até 2030, a fome poderá chegar a aproximadamente 67 milhões de pessoas somente na América Latina e Caribe.
Porém, os impactos negativos são maiores quando acontecimentos globais como a COVID-19 apresentam uma perspectiva de que 83,4 milhões de pessoas passarão fome ainda em 2020. O mesmo relatório acrescenta que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2: fome zero e agricultura sustentável não será alcançado.
E o desperdício de alimentos? De acordo com dados da FAO, em 2019, cerca de 1,3 bilhões de toneladas são desperdiçadas no planeta e nossa contribuição nesta imensa fatia está em cerca de 26,3 milhões de toneladas por ano de alimentos desperdiçados. Infelizmente, estes são alguns resultados negativos e tristes.
E o que podemos fazer?? Podemos fazer a nossa parte.
A horta comunitária pode ser realizada por um pequeno grupo de pessoas de um mesmo bairro ou por cooperativas de alimentos. Frequentemente ocorrem em espaços relativamente pequenos. Porém, sua composição estabelece um importante papel na paisagem urbana quando espaços ociosos, são ou deveriam ser ocupados pelas hortas urbanas evitando a sua degradação como depósito de lixo e, consequente, proliferação de insetos e animais e com a sua desvalorização.
Se hortas comunitárias deram origem a agricultura, podemos dizer que através do uso racional de espaços ociosos na cidade as hortas comunitárias, também deram origem às hortas urbanas.
Não é novidade a pratica das hortas urbanas em vários países, inclusive no Brasil. Além de fortalecer a agricultura, redesenha grandes espaços urbanos ociosos, como por exemplo a High Line Park em Nova York (Estados Unidos) ou espaços públicos e privados em Vancouver (Canadá), cuja prática torna-se um instrumento de Política Pública Alimentar. Em Paris, a Nature Urbaine, recentemente inaugurada para ser a maior horta urbana do mundo com 14 mil metros quadrados, é sobre os telhados do Parque de Exposições de Versalhes; já em Hong Kong, a horta comunitária Value Farm foi implantada numa antiga fábrica, bem como as hortas em estações de trem no Japão.
No Brasil temos várias hortas em São Paulo, Campo Grande, Curitiba, Porto Alegre. Temos projetos inovadores em São Paulo, como a primeira fazenda vertical urbana as margens da Marginal do Rio Tietê e outas valiosas iniciativas neste segmento.
E porque não implantar esta ideia naquele espaço esquecido no seu prédio ou na sua casa. As coberturas ou telhados ou os canteiros verdes, não são os pintados de verde, podem além de sustentar a mesa, reduzir as ilhas de calor, trazendo conforto térmico e acústico, eliminando o condicionamento de ar e resgatando a flora regional com a atração de pássaro e insetos polinizadores. Bem, podemos listar vários benefícios tanto para as hortas como para as coberturas verdes e para a vida.
Não importa se é uma horta urbana ou comunitária ou uma cobertura verde a sua contribuição além de alimentar o corpo, alimenta a alma. Proporcionam um maior convívio social, um importante instrumento pedagógico com a prática da educação ambiental, fortalecem a saúde, a sustentabilidade do meio, gerando emprego, renda e economia, que facilitam ainda o escoamento das águas pluviais e muito mais.
Consuma e compre somente o necessário, não desperdice, poupe os recursos naturais, respeite quem planta e colhe para garantir que o alimento chegue na nossa mesa.
E o que conta…? Nossa contribuição para um planeta melhor e sustentável.
Ana Paula Capuano é arquiteta, mestranda em Ciências Ambientais com ênfase em construções sustentáveis. Projeta edificações eficientes, sustentáveis e com acessibilidade.